Jofran P. Oliveira

psicólogo/psicoterapeuta – crp 06/125148

[O mundo do trabalho]

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O pensamento corrente na psicologia de folhetim, muito presente nas redes sociais e blogs de colunistas especializados nesse campo, vive nos convidando a refletir sobre o mundo do trabalho: que trabalhar é divertido, que é possível extrair prazer da atividade laboral. Somos obrigados a “amar” nosso trabalho, temos que “dar o melhor de sí”, “fazer a diferença”.

Aconselham-nos a desenvolver habilidades sociais, afetivas e cognitivas baseadas nos ensinamentos da PNL. Milhares de “coachs”, via de regra mal preparados, ensinam técnicas mirabolantes para “influenciar pessoas” e conseguir o “emprego dos sonhos”. Discordo parcialmente desse discurso ingênuo e alienante.

Então, resolvi jogar um pouco de lenha nessa fogueira e para começo de conversa, não tem como falar do mundo do trabalho sem falar do capitalismo. Sinto muito amiguinho…

Minha opinião é que esses colunistas e psicólogos de folhetim ignoram uma premissa básica do capitalismo: o empregado, em qualquer empresa nesse mundo, tem a função primária de gerar lucro para seu empregador (atire a primeira pedra quem discorda).

Se a premissa básica for realmente verdadeira – a função primária do empregado é gerar lucro – então os ensinamentos e “dicas” dos experts mal se sustentam logo de saída. Qualquer office boy por mais mal preparado que seja, sabe que para desempenhar satisfatoriamente suas funções tem que se levantar muito cedo, dirigir-se até o local de trabalho, executar uma série de atividades pré-determinadas com prazo exíguo de execução sob supervisão atenta de um chefe nem sempre amigável.

Mas ainda na linha do pensamento hegemônico e apenas para fins didáticos, vamos supor que esse office boy é o melhor do planeta. Ele é o “the-office-boy”. Ama de paixão seu trabalho: ir de banco em banco entregando documentos, pegando cheques devolvidos. Tem orgasmos cada vez que precisa ir até uma repartição pública obter um carimbo qualquer e divaga sobre a vida enquanto aguarda três longas horas em uma fila que não sai do lugar. Depois volta feliz para o escritório enfrentando congestionamentos terríveis, ônibus lotados, metrô a passos de tartaruga e sempre acaba fazendo duas horas extras todo santo dia sem remuneração (já que os atrasos ocorrem devido a condições externas e não previstas no contrato de trabalho).

Seria possível, nesse cenário, sentir-se feliz 100% do tempo? Será que esse mesmo office-boy nunca pensaria em trocar seu trabalho por uma atividade mais lúdica e menos mecanizada?

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