Jofran P. Oliveira

psicólogo/psicoterapeuta – crp 06/125148

O Velhinho foi embora…

| 0 comentários

Realmente, o Velhinho tem um coração que vale ouro! (Foi isso que pensei quando fiquei sabendo que ele ia embora…). Na verdade, acho que o apelido dele devia ser “Seu Duca”. O “Seu Duca” foi meu chefe quando ainda era “office-boy” (esse cargo ainda existe?) lá em Bauru no final dos anos 70. Mas essa é outra história…. Ou não…

Acontece que ele trabalhava comigo na repartição. Não sei direito o que ele fazia. O fato é que acho que tínhamos o mesmo cargo. Ou não…

No dia que conheci o Velhinho lembro bem, estávamos conversando sobre as eleições. Os candidatos mais cotados eram um playboy cheio da grana e uma dona que diziam ser amante do ex. Como é que pode uma mulher ser amante do ex-marido? Coisas da modernidade, diria meu avô… Só sei que a turma que defendia o playboy dizia que o País precisava de uma nova liderança que fosse capaz de retomar o caminho do desenvolvimento. Já a turma que defendia a dona que era amante do ex, dizia que os avanços sociais que o ex dela proporcionou ao País seriam perdidos se o playboy vencesse. O velhinho lembro bem, foi taxativo: nenhum nem outro. Bando de gente incompetente! Disse ele. Pensando bem, acho que ele estava com a razão…. Ou não…

Imaginei de novo meu avô: “Futebol, política e religião não se discute e ponto final! ”. Continuei pensando pelo resto do dia: Por que o velhinho lembrava meu avô? Revisei Freud e toda sua metapsicologia: o complexo de édipo, a teoria do trauma, o mal-estar da civilização, as cinco lições de psicanálise e nada me ajudou a decifrar a associação. Ou não…

Eureca! (Pensei) O Velhinho não é desse planeta! Ele é um ser intelectualmente muito mais evoluído que veio por aqui nos ajudar. Deve ter vindo de Marte, ou até de mais longe. Outro sistema solar quem sabe. Ok! Me dei por vencido. Não há provas cientificas de que seres extraterrestres habitem entre nós. O governo sempre diz que isso é superstição e invenção de gente sem caráter. Acho que estão certos. Ou não…

Recorri, como último recurso, aos livros. Meu avô (que Deus o tenha! Amém!) era um sujeito austero, de poucas e sábias palavras. Na verdade, ele era do tipo “bateu levou”. Sempre me dizia que quem não escuta “conselho” escuta “coitado”. Voltando aos livros, rememorei alguns personagens na inglória missão de tentar entender o Velhinho. Comecei com o Dr. Simão Bacamarte, comparando a repartição à Vila de Itaguaí ou pior ainda: que a repartição fosse o hospício onde o bom doutor internou a cidade toda já que achava que todo mundo era louco, menos ele próprio. Depois veio Dom Quixote de La mancha. Para quem não sabe, Dom Quixote andava com uma espada, um escudo e seu escudeiro Sancho Pança lutando contra a injustiça e protegendo os fracos e oprimidos pelo mundo afora. Não resolveu. Finalmente, lembrei-me do Major Policarpo Quaresma que queria salvar nosso grande Brasil das garras dos estrangeiros usurpadores. Bom, de tão patriota que era, acabou num hospício. Definitivamente esse não era o perfil do Velhinho, ou não…

Incorri de novo em erro grosseiro: Nem meu avô, nem E.T., nem personagem de livro! Mas que diabos estou fazendo? Justo eu, que vivo falando que não sou preconceituoso e que não fico julgando as pessoas pela aparência, que respeito a opinião dos outros, que sou democrático e todo aquele blablabla! Putz grilo! Há, por falar em aparências… O Velhinho é um sujeito alto, magro, meio careca (ou será careca por inteiro?), anda meio desengonçado – acho que é porque tem as pernas muito compridas. Tem uma barba meio branca meio preta. Tem uma aparência austera (que nem meu avô). Para ser franco, dá até medo.

O Velhinho…. Finalmente!

                Do lado do Velhinho trabalhava um moleque, acho que tinha uns vinte poucos. Estávamos no café quando o garoto passou por nós – acho que ele estava empolgado com alguma coisa do projeto. Seus olhos brilhavam como brilham os olhos dos poetas e dos sonhadores. O Velhinho virou pra mim e disse: Esse menino vale ouro! É verdade, concordei, esse menino vale ouro! Mas, estamos falando do Velhinho e não do menino que vale ouro.

                O certo mesmo é que o Velhinho é um sujeito sensacional. Bacana demais, humano, solidário e que como todos nós, está buscando a própria felicidade, uma vida melhor e mais autentica. O melhor de tudo é que faz isso com sinceridade sem querer levar vantagem. Ele na verdade é um sujeito humilde, simples e dono de uma sensibilidade ímpar (já sei que alguém vai zoar comigo por causa disso. Paciência…). Sei que ele se mandou lá para as bandas do Norte. Não sei direito onde.

                Realmente, o Velhinho tem um coração que vale ouro! Falando em coração, de coração desejo que ele e sua amada sejam realmente felizes!

                Obs.: Se alguém souber do seu paradeiro, avisa que ele esqueceu a bengala na repartição.

Share

Deixe uma resposta

Campos requeridos estão marcados *.